Enquanto figuras de destaque da política e da tecnologia norte-americana, como Elon Musk, escalam o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo dos Estados Unidos adota cautela. A presença do chefe do setor de sanções do Departamento de Estado, David Gamble, em Brasília nesta segunda-feira (5/5), em meio a rumores e tensões diplomáticas, amplia as especulações sobre o possível envolvimento oficial dos EUA em questões internas do Judiciário brasileiro.
É fato que Moraes tem sido protagonista em decisões polêmicas que envolvem o combate à desinformação e o controle de discursos de ódio nas redes sociais — medidas que, embora apoiadas internamente por grande parte do STF, enfrentam críticas de setores conservadores e de empresários como Musk, que veem nessas ações uma ameaça à liberdade de expressão.
O debate, no entanto, não pode ser simplificado. Não se trata de uma dicotomia entre censura e liberdade, mas de uma tensão complexa entre os limites da democracia e os instrumentos legais de contenção ao discurso antidemocrático. A judicialização do ambiente digital, como no caso das decisões de bloqueio de perfis e plataformas, é reflexo de um tempo em que as instituições tentam se adaptar a um novo campo de batalha: o virtual.
A possível reunião de David Gamble com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro adiciona uma camada de preocupação. Qual a legitimidade de um enviado norte-americano dialogar com figuras que estão diretamente envolvidas em investigações conduzidas por Moraes? Qual a real intenção de buscar informações sobre os bens do ministro em solo americano?
A nota evasiva da Embaixada dos EUA, que evita confirmar ou negar qualquer plano de sanção, revela mais do que esconde. Ao mencionar que “não comentam sobre casos hipotéticos”, deixam aberta a porta para um futuro posicionamento, talvez condicionado à pressão política de figuras como Musk e aliados do ex-presidente Donald Trump.
É preciso lembrar que soberania institucional não se negocia. O STF, gostemos ou não de suas decisões, é um dos pilares do sistema democrático brasileiro. Qualquer tentativa de minar sua autoridade, seja por pressões externas ou internas, coloca em risco o equilíbrio entre os poderes.
A posição do governo brasileiro deve ser clara: defender suas instituições frente a ingerências estrangeiras, por mais sutis ou veladas que sejam. O Brasil precisa de diplomacia firme, mas não submissa. A crítica é saudável e necessária, mas sanções e ameaças de magnatas bilionários ou aliados políticos de outro país são uma afronta não apenas a um ministro, mas à autonomia de toda a República.
A sociedade brasileira, por sua vez, precisa estar atenta. Não é sobre Alexandre de Moraes. É sobre o que nos tornamos se aceitarmos que as decisões da mais alta Corte do país sejam pautadas por interesses estrangeiros.
Redação HortoMídia.