A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo , que se sente abandonada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ela, essa sensação não é exclusiva: “Não só eu, como outras pessoas também perderam a amizade do presidente no momento em que precisaram”, declarou.
A parlamentar rejeitou as críticas feitas por Bolsonaro, que atribuiu a ela parte da responsabilidade pela derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Na ocasião, Zambelli foi flagrada apontando uma arma para um homem durante um incidente em São Paulo. “Acho que atrapalhou, mas não foi algo tão impactante. Não acredito que muitas pessoas mudaram seu voto por causa disso”, ponderou.
Além disso, a deputada revelou arrependimento pelo episódio envolvendo a arma. “Devia ter entrado no carro e ido embora”, disse. O caso resultou em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), onde a maioria dos ministros já votou pela condenação de Zambelli a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, além da perda do mandato por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal. O julgamento, no entanto, foi suspenso por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques.
Ausência de apoio e frustração
Zambelli, que apoia Bolsonaro desde 2013, expressou sua frustração pela falta de apoio do ex-presidente durante o momento delicado que enfrenta. “Fui uma das pessoas mais linha de frente para defender o governo e não tive a amizade dele neste momento difícil”, afirmou.
Questionada sobre sua participação em manifestações pró-Bolsonaro, como a programada para 6 de abril, Zambelli afirmou que não comparecerá, pois está concentrada em seu julgamento. “Vou votar a favor da anistia se o projeto chegar à Câmara, mas não posso me arriscar agora”, explicou.
Indireta ao ex-presidente
Na semana passada, Zambelli publicou uma mensagem no X (antigo Twitter) que foi interpretada por membros do PL como uma indireta ao ex-presidente. “Enfrentar o julgamento dos inimigos é até suportável. Difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo”, escreveu. A postagem ocorreu horas após Bolsonaro reafirmar, em um podcast, que Zambelli contribuiu para sua derrota eleitoral em 2022.
O julgamento no STF, realizado no plenário virtual, deveria ter sido concluído em 28 de março, mas foi interrompido pelo pedido de vista de Kassio Nunes Marques. O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, sugeriu a condenação de Zambelli, posição seguida pelos ministros Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Dias Toffoli.
O caso da perseguição armada
O processo contra Zambelli decorre de um incidente ocorrido em outubro de 2022, quando ela apontou uma arma para um homem em São Paulo após uma discussão. A parlamentar argumentou que possuía autorização para portar a arma, mas Gilmar Mendes destacou que isso não justifica a perseguição de indivíduos em via pública sem risco iminente à segurança.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu a condenação da deputada. Luan Araújo, jornalista que foi perseguido por Zambelli e atuou como testemunha de acusação, afirmou que a reação da parlamentar foi desproporcional e violenta. Na ocasião, um segurança de Zambelli chegou a disparar a arma e foi preso pela Polícia Civil.
Com o julgamento suspenso, ainda não há previsão para a retomada do caso, mas Kassio Nunes Marques tem até 90 dias para devolvê-lo à análise do plenário virtual.