Crônica: Guerra nuclear e o silêncio da Fauna

 

Era um dia como outro qualquer. O céu ainda era azul, as árvores ainda dançavam com o vento, e os pássaros ainda cantavam. Ninguém percebeu o som que cortou o ar como uma faca invisível — uma ameaça antiga, sempre possível, mas sempre ignorada: a guerra nuclear.

Não foi um trovão. Foi o fim.

As cidades desapareceram primeiro, como castelos de areia tragados por uma onda furiosa. Mas nos confins das montanhas, nas serras escondidas e nos recantos  desértico, a vida selvagem ainda tentava entender o silêncio repentino. As Corsas buscaram o rio, mas ele já fervia. Os lobo  vagaram, mas não havia mais cheiro de deserto — só fumaça, metal e desespero.

A radiação, esse inimigo sem rosto, chegou sorrateira. Não veio como fera feroz, mas como sussurro mortal. Entrou nos corpos sem pedir licença, mudou o que era natural, enfraqueceu o que era forte. As árvores começaram a abortar suas folhas, os ninhos ficaram vazios, e os insetos — tão resistentes ao tempo — caíam como cinzas de um fogo que não se apagava.

Ninguém pensou no lobo, no cervo ou na serpente. Ninguém escreveu leis para protegê-los de mísseis. Eles não assinaram tratados, não entraram em debates. Apenas viviam, como sempre viveram. E, de repente, começaram a morrer.

E então, o silêncio. Um silêncio profundo, denso, eterno.

A guerra que os humanos provocaram, a “grande resposta”, não ficou entre muros e fronteiras. Escapou pelos poros do planeta. A fauna silvestre — nossa primeira testemunha do mundo — tornou-se também sua última vítima inocente.

Agora, o mundo é um museu de sombras. De vez em quando, um vulto atravessa a névoa, lembrando o que já foi. Mas não há mais canto de pássaros, nem urro do leão da montanha, nem zumbido de abelha. A Terra respira com dificuldade, como um velho doente, lembrando dos dias em que era viva.

E a pergunta fica: para quê?

Se ninguém sobreviver para contar a história, restará apenas a culpa no eco das florestas caladas.

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