Mourão minimiza tentativa de golpe e chama conspiradores de “Tabajara”
Em entrevista ao O Globo, Mourão classificou a trama como uma “conspiração Tabajara”, sugerindo que a incompetência dos envolvidos seria um fator atenuante.
O senador e general da reserva Hamilton Mourão, ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro, tentou relativizar a tentativa de golpe de Estado por parte de seu campo político. Em entrevista ao O Globo, Mourão classificou a trama como uma “conspiração Tabajara”, sugerindo que a incompetência dos envolvidos seria um fator atenuante. Contudo, ao longo da História, golpistas que fracassaram não deixaram de representar uma ameaça – deixar seus atos impunes apenas abre espaço para que, no futuro, os erros sejam corrigidos e as tentativas sejam bem-sucedidas.
Ao tachar militares, políticos e empresários envolvidos – incluindo financiadores do agronegócio – como “limitados” ou “burros”, Mourão acaba por colocá-los em uma posição de inimputáveis. Essa narrativa transforma uma grave violação contra a democracia em algo quase cômico, quando, na verdade, se trata de um crime que deve ser investigado, denunciado e julgado.
O senador também minimizou o planejamento do golpe ao descrevê-lo como “conversas de WhatsApp”, ignorando a realidade dos tempos modernos. Hoje, revoltas populares, golpes e revoluções são frequentemente articulados por meio de mensagens instantâneas. Ferramentas de comunicação digital substituíram as conspirações feitas em salões elitistas e têm se mostrado extremamente eficazes para mobilizar ações e derrubar governos.
Na tentativa de encaixar o episódio em uma visão ultrapassada, Mourão declarou: “Golpe é como você viu aí na Síria, na Venezuela, na Turquia, é tropa na rua, é tiro, é bomba”. O general da reserva parece preso à imagem clássica dos tanques avançando de Minas Gerais ao Rio de Janeiro para depor João Goulart, em 1964. Ele ignora que os métodos dos golpistas evoluíram.
Em sua fala, Mourão chega a chamar os conspiradores de “malucos”. No entanto, a linha entre um “maluco” e um tirano, muitas vezes, é definida pelo sucesso dos planos. Afinal, quando a tentativa dá certo, o maluco se torna um líder autoritário.